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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Como ajudar a entender as diferenças




 Para as famílias que decidam adotar uma ou mais crianças, existem formas de ajudá-las a fazer uma transição emocional de ser uma “criança institucionalizada” para ser um “filho ou filha” de pais específicos

Por Michael Almeida, Psicólogo

Enquanto os pais adotivos podem apreciar a diferença do papel da criança dentro do seu seio familiar, as crianças podem não compreender claramente a diferença entre ser uma criança com cuidados adoptivos (numa instituição), contra ser uma criança adoptada.

Existem formas específicas que as famílias podem fazer para ajudar a criança a entender essas dife-renças, nomeadamente falar com a criança sobre as mudanças vivenciais e ajudá-la a inserir-se num novo contexto social. Ao preparar as conversas relativas às mudanças vivenciais que ocorrem, os pais e outros adultos que estejam relacionados com o processo de adopção devem lembrar-se sempre de inserir a criança neste processo e escutar cuidadosamente as palavras que ela usa e as perguntas que faz. Perguntas relacionadas com a família biológica e a sua origem podem ser dirigidas. É importante dizer sempre a verdade (mesmo se for doloroso) e valorizar a experiência e os sentimentos da criança.

Enquanto estas conversas podem criar sentimentos dolorosos à criança e aos pais que a amam, ao ajudá-la a enfrentar o sentimento de perda que teve está a promover-se, por outro lado, uma sensação de permanência na sua família de adopção. As conversas entre os pais e a criança sobre estes assuntos terão provavelmente de ser repetidas várias vezes e de várias formas, de modo a que ela entenda perfeitamente a diferença de agora ter uma FAMÍLIA. É recomendado que estas conversas se realizem no decorrer de outras conversas e aplicadas em actividades de conjunto.

Ao falar com a criança sobre a diferenciação percepcionada por ela pelas suas próprias palavras, os pais devem fazer perguntas abertas do tipo “O que pensas sobre o facto de seres adoptado é diferente sobre estares em cuidado adoptivo numa instituição?” ou “Qual será a maior diferença agora que és adoptado?”.
Existem, também, alguns passos que se devem realizar no processo de integração da criança numa nova família, numa nova vida, com novas pessoas e em novos grupos…

Os pais/educadores devem criar uma reconstrução exacta da história da criança, numa forma material, como por exemplo, utilizando uma técnica de artes decorativas como o Scrapbooking.  Sob a forma de um livro, com mapas, fotos ou imagens, palavras da criança, desenhos, entre outros, com o decorrer do tempo, ajuda-a a ver e a entender a sua própria história. Mas, muito mais importante que isso, é ela saber que tem uma história de vida como todas as outras crianças.

Os pais/educadores devem também ajudar a criança a identificar figuras vinculativas/ídolos/ícones da sua vida. Os pais/educadores devem ser capazes de aprender e valorizar a importância destas figuras para a criança, escutando-a e respeitando o seu discurso e as suas emoções. Estas figuras podem ser parentes, outras crianças, animais, personagens da TV, actores, cantores, entre outros. No caso de serem parentes ou familiares deve-se, sempre que possível, incluí-los na vida da criança, ganhando confiança e cooperação com os mesmos. Como estão vinculados com ela, esta não sabe lidar com perdas constantes se os pais não permitirem o contacto ocasional.

Numa fase de transição é importante que os pais e educadores tenham em mente que o processo é complicado e demorado. Há que inserir a criança num novo contexto familiar, escutá-la, ser sempre verdadeiro para ela, validar a sua história de vida, criar um espaço seguro para a mesma, criar a percepção que nunca é tarde de mais para voltar atrás no tempo para construir o futuro, não esquecendo de abraçar a dor como parte deste processo.
A adopção é um tema vasto e com inúmeras problemáticas e situações que as pessoas gostariam de ver resolvidas. Superficialmente pode parecer fácil para uma criança ficar numa família, a verdade é que o processo interno da criança e da família é muito mais complicado.

Educar a criança a saber quem ela é!
No entanto, são muitas as crianças que estão à espera de serem adoptadas e outras tantas que nunca sabem que foram adoptadas, já que eram bebés ou recém-nascidos. A maior procura incide nesta faixa etária para evitar constrangimentos e dor para a criança no decorrer do seu desenvolvimento. No entanto, é consensualmente aceite que a verdade, mais tarde ou mais cedo é descoberta e o sentimento de perda e dor é muito maior e problemático, do que educar a criança a saber quem ela é… Que é um SER, que tem uma FAMÍLIA, que tem quem a AME de verdade e mais importante: que é uma CRIANÇA como outra qualquer.

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